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sexta-feira, 15 de abril de 2011

A inusitada honestidade

Os casos são mais comuns do que se imagina. Numa simples busca na internet encontramos os relatos: no interior de São Paulo, trabalhadores encontram dinheiro num envelope e procuram o dono para devolver; na Bahia, casal de agricultores endividado encontra uma carteira recheada de notas de R$ 100, suficientes para pagar um terço das contas vencidas. Procuram o dono e devolvem tudo; ainda em São Paulo, cobrador de ônibus encontra num dos bancos mais do que o salário que recebe por mês. O valor, suficiente para pagar três meses de aluguel é totalmente devolvido ao dono.

Nada disso foi inventado. Está tudo contado na web, em forma de notícias e com um bom destaque. Afinal de contas, exemplos de honestidade são raros e merecem o reconhecimento. Merecem servir de exemplo.

Mas será que a honestidade está tão em falta assim. Ao ponto de obrigatoriamente virar notícia o fato de um cidadão devolver ao outro o que não era seu? Infelizmente parece que está.

A própria tragédia que atingiu ao Japão nos surpreendeu, é claro que pela força da tsunami, mas também pela paciência e educação do povo japonês. Foi notícia por aqui o fato de não terem ocorrido saques a lojas e supermercados. Mesmo desolados com toda a catástrofe os japoneses aguardaram pacientemente em fila para receber algum tipo de ajuda. Realmente, algo surpreendente que até virou notícia.

Mas, como eu já escrevi logo na primeira linha deste texto, os exemplos de honestidade estão por aí e são muito mais comuns do que a gente imagina. Muito, talvez, seja por causa da natureza humana de primeiro ver os defeitos e só depois a qualidade.

Vejamos a internet. Tem muito coisa ruim, é claro, e por consequência, muitos trapaceiros desonestos se aproveitam dos recursos que ela oferece para lograr as pessoas.

Só que esta mesma internet tem ajudado a despertar, ou recuperar, a honestidade perdida. Muitos negócios feitos através da net são baseados quase que exclusivamente na confiança.

Pela web dá para comprar pacote turístico sem nunca ter pisado no hotel ou na agência que lhe vendeu as passagens, comprar um livro, DVD, computador, entre outros objetos, por um preço mais justo do que se encontra presencialmente, ou combinar uma viagem numa excursão com um sujeito que você só conheceu pela internet. Dá até para atravessar o país em busca de um caminhão que se encontrou pelo preço que se queria pagar.

É claro que temos muitos exemplos de trapaças, mas acredito que temos muito mais casos de honestidade. Sem ela, negócios deste tipo não seguem em frente. É uma questão de comportamento e relacionamento social.

É um sonho, é verdade. Mas quem sabe chegaremos num dia em que as histórias de honestidade nem sejam mais contadas em jornais, porque tenham virado prática comum. Tão comum que até a falta dela também deixará de ser notícia.

(*) texto publicado na edição de abril da Revista Alternativa

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