Gilmar Salgado, durante entrevista à Unisul TV |
BLOG DO RAFAEL MATOS - Por que o PSTU defende a estatização das multinacionais?
GILMAR SALGADO - A questão toda que tentam nos convencer é de que as multinacionais trazem muito dinheiro para o nosso país, para Santa Catarina, criando empregos, trazendo tecnologias novas e que o Brasil sozinho não poderia desenvolver a a ciência e tecnologia sem as multinacionais. Mas os números, do último período, mostram que o saldo da balança comercial é o seguinte: está saindo muito mais dinheiro do nosso país do que está entrando com as multinacionais. Então as multinacionais da Alemanha, da Bélgica, como é a Tractebel, por exemplo, vem pra cá e conseguem estabelecer poucas vagas de trabalho, e o lucro não é aplicado no Brasil, em Tubarão ou Capivari de Baixo, em Santa Catarina, é enviado para as matrizes, no exterior. Então elas devem ser estatizadas, todas as montadoras de carro, as empresas que lideram o agronegócio. Elas vem aqui para explorar a força de trabalho dos trabalhadores, com salários miseráveis e jornadas abusivas. O Brasil precisa se desenvolver sem as multinacionais, por isso defendemos que elas sejam estatizadas sem indenização porque já lucraram demais.
BRM - O senhor defende mudança nos valores determinados pela Lei de Responsabilidade Fiscal para os repasses para educação e saúde?
GS - Não há dúvida, os países com os melhores índices de educação no mundo não foram criando Fundef, ou Fundeb, arrumando uma migalha aqui, uma esmola alí, para aplicar na educação. Eles trabalham com um percentual do Produto Interno Bruto (PIB). Então nós defendemos isso. Hoje o Brasil gasta 3% só com saúde e 36% com juros das dívidas interna e externa para os banqueiros. Com educação gastou só 4% em 2009. Nós defendemos que a saúde deve dobrar esse investimento em relação ao PIB, chegando a 6% e a educação passar para 10%, rumo aos 15%. Essa é a única maneira de atender, de fato, as necessidades da população que hoje morre nas filas, sem médicos especialistas, professores e o magistério cada vez mais desvalorizados, sendo massacrados pelos governos. E depois da reforma da previdência, que teve o apoio dos senadores, hoje candidatos, Colombo (DEM) e Ideli (PT), os professores trabalham doentes porque não conseguem se aposentar. Tem que ter um salário decente para o professor, que pelo Dieese, hoje deveria ser de R$ 2,1 para 20 horas/aula e 50 horas/atividades, para o professor melhorar preprar as aulas e os estudantes aprendam mais e fiquem satisfeitos com o que é repassado em sala de aula.
BRM - Os municípios querem que os royalties do petróleo extraído do pré-sal sejam distribuídos de acordo com o FPM. Você concorda com isso?
GS - Eu acho insuficiente. Hoje os municípios estão a toda hora de pires na mão em Brasília e não resolvem nada, porque os deputados estão preocupados com os próprios salários e privilégios do que resolver os problemas da população. O Congresso Nacional está de costas para a população, principalmente os mais pobres. O petróleo hoje, a discussão que está tendo do pré-sal, especialistas da Petrobrás, que fazem parte da Conlutas e do Sindicato dos Petroleiros, fizeram um estudo e ele recomenda que esse não é o momento de explorar a camada do pré-sal, tendo em vista que a exploração vai levar a uma chamada para as multinacionais para vir aqui se apropriar dessa riqueza natural que é do nosso país. E apesar da Petrabrás ter a melhor tecnologia para explorar em águas profundas, o brasileiro não está se beneficiando desta riqueza. Porque o Fernando Henrique Cardoso (PSDB) (presidente 1995-2002) abriu a Petrobrás e privatizou através dos leilões de poços de petróleo que continuaram no governo Lula (PT). Agora no pré-sal a discussão é: a oposição de direita, o DEM e o PSDB, que representam os grandes bancos e os banqueiros, que sempre governaram contra os trabalhadores querem o regime de concessões, ou seja, entregar para as multinacionais. O governo Lula quer o regime de partilha, dividar com as multinacionais. A pergunta é: por que entregar nossas riquezas naturais para elas. Esses recursos devem servir para os municípios investirem em educação e saúde. A população tem que se beneficiar dessa riqueza.