segunda-feira, 20 de maio de 2013
Los médicos cubanos
“A PREPOTÊNCIA MÉDICA
(*) L.J. Sardá, jornalista e professor
Foi só o governo determinar a contratação de 3,5 médicos cubanos para o corporativismo médico brasileiro se exaltar, protestar ingressar na justiça com um mandado de segurança para proibir a importação. Na Inglaterra, por exemplo, 40% dos médicos são de outras nacionalidades, porque o Reino Unido não forma profissionais suficientes para atender à demanda de pacientes. Assim ocorre também nos Estados Unidos, França e até no Canadá e Alemanha. Mas aqui no Brasil, o corporativismo médico pouco se importa se o paciente está na fila, principalmente através de planos privados de saúde, há 20, 30 ou 60 dias. Até porque - podem pensar alguns médicos - se a gente fica na fila mais de um mês à espera do carro novo, por que o cidadão não pode esperar o médico? Não é mesmo? Aqui vale até essa comparação!
Formar-se médico no Brasil é privilégio de uma casta social de alto poder aquisitivo. Para ser aprovado no vestibular em universidades públicas, o candidato precisa ter se formado em escolas particulares de I e II graus e ainda frequentado intensivamente o terceirão. O acesso a faculdades particulares de medicina só a famílias de alto poder aquisitivo, em condições de desembolsar por mês em torno de R$ 6 mil (todas as despesas).
Para se ter uma ideia da carência de profissionais médicos só em Santa Catarina, muitos jovens que estão se formando nem pensam agora fazer a residência. Com o canudo nas mãos, eles estão fazendo plantões hospitalares faturando, já de início, em torno de R$ 18 mil.
Está errado? Não! Esses profissionais precisam ser bem pagos, pois cuidam de vidas humanas. Contudo, não se admite o sofrimento do povo. Está mais do que comprovado que médicos não cumprem totalmente seus expedientes em hospitais e postos de saúde mantidos com dinheiro público. Isto porque a maioria das gestões de instituições de saúde está nas mãos de médicos e aí predomina o corporativismo. Lembro-me que o governador Konder Reis, diante desse descalabro, entregou mais de 10 hospitais públicos para as freiras administrarem. E deu no que deu. As irmãzinhas impuseram o controle de ponto e avaliação permanente dos médicos. No governo seguinte, derrubaram as irmãzinhas com um trator eleitoreiro.
Como já foi dito em outras oportunidades, o jornal O Globo destacou recentemente que 60% dos segurados de planos privados de saúde estão recorrendo ao SUS para ser atendidos. Olha só a dimensão da balbúrdia nacional. Além disso, há médicos exigindo complementação a planos de saúde para atender mais rápido.
Só faltava agora a nossa justiça dar liminar à Associação Nacional de Medicina e proibir a contratação de médicos cubanos. O Governo brasileiro deveria fazer como na maioria dos países europeus, Canadá, Cuba, Japão e China: custear a formação de médicos, com bolsas integrais a estudantes carentes e intensificar, com qualidade, a construção de faculdades de medicina em todo o Brasil. Deixe as associações médicas espernearem.”
2 comentários:
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Muito boa e pertinente a matéria, gostaria apenas de colaborar com a seguinte reflexão. O que está realmente em debate não é a vinda de médicos de CUBA... poderia ser de qualquer pais... o problema é a FORMA que o governo quer trazer esses profissionais... que ao meu ver... é equivocada. No plano do governo, esses profissionais não precisariam nem mesmo realizar o exame que hoje é obrigatório para médicos de outros países que vêm atuar por aqui. O Conselho Regional de Medicina é contra a decisão. Assim sendo, o problema a ser apontado para este assunto de "Médicos Cubanos" não é se devem ou não vir se são ou não Cubanos, Chilenos, Americanos, Russos... mas sim a FORMA de ingresso equivocada que o governo está criando para tapar seus buracos na área da saúde. Lembrando também que esses médicos NÃO poderão concursar para nenhuma vaga de médico para carreira pública, pois só é permitido concursar para vagas públicas Brasileiros (e alguns poucos portugueses que vençam alguns requisitos).
ResponderExcluirRafael,
ResponderExcluirConcordo plenamente em seu coerente comentário. Entretanto ele se baseia na crença de que o exame de equivalência é justo. Por justo quero dizer que a grande maioria dos médicos brasileiros tem que ser capaz de passar no exame. Há relatos contrários que dizem que os exames são corporativistas. Eu não sei a verdade sobre esse tema, mas considere-a por instantes. Muda absolutamente o que você disse. Essa resposta é importante antes que defendamos a ferro e fogo nossa opinião, como tem acontecido principalmente pelas redes sociais..