(*) Maurício da Silva
Tubarão não precisaria estar passando por este sufoco com relação à (in) segurança. Em junho de 2006, na condição de prefeito, por 5 dias úteis, apresentei à sociedade organizada tubaronense o Projeto de Prevenção e Combate à Violência. Diagnóstico das ocorrências policiais foi efetuado por bairro, modalidade, incidência, sexo e idade dos envolvidos. Grupos de trabalhos foram formados. Planos de ações foram elaborados. Leis foram aprovadas na Câmara de Vereadores. Imprensa e Setores da Sociedade apoiaram. Forças tarefas entraram em ação e os resultados apareceram: menos bêbados atendidos na Emergência do Hospital, pais mais cedo em casa, mais ordem na cidade.
Na época, justificou-se que: a) “É melhor, mais barato e mais eficaz prevenir do que remediar, e as possibilidades de êxito são maiores quando se ataca o problema no seu início”; b) Em tese, o tema não é motivo de preocupação para nós. As autoridades da área informam estar sob controle. De fato, aqui não há os registros de violência dos grandes centros ou da próxima Florianópolis, onde, somente este ano, já ocorreram mais de cem assassinatos.
Há, todavia, na imprensa local, divulgações, quase que diárias, de apreensão pela polícia de pequenos traficantes, de pequenas quantidades de drogas, de pequenos furtos e de pequenos ladrões. Não nos iludamos porém. Por enquanto, tudo é pequeno, porque pequenas foram, até aqui, as expectativas em nossa cidade, além de haver uma série de entidades atuando preventivamente. Nunca fomos um pólo industrial, nunca oferecemos grandes quantidades de empregos. Por isso, nunca atraímos grandes glebas de pessoas que trazem junto o grande e inevitável número de marginais.
Com as expectativas em alta, em decorrência da duplicação da BR 101, do funcionamento do Aeroporto Regional, da melhoria dos portos de Laguna e Imbituba, da excelência dos serviços do Farol Shopping, do nosso potencial em recursos naturais, saúde e educação superior, atrairemos muitos investidores, mas também muitas famílias que não serão absorvidas pelo mercado de trabalho, engrossando as já problemáticas periferias e a quantidade de meliantes.
Atrelado a tudo isso, somos vítimas do contexto nacional de crescimento econômico pífio, desigualdade social extrema, educação básica precária, negligência no enfrentamento ao crime e crise, sem precedente, de valores. Ou seja, temos todos os ingredientes para perdermos o controle da situação e convivermos com a angústia e o horror, por que não dizer terror, das grandes cidades.
Para que Tubarão possa crescer, sem perder o status de cidade segura, propusemos, a exemplo de outras cujos índices de violência diminuíram, envolver toda a sociedade organizada na compreensão da complexidade deste problema e na elaboração, execução e proposição - a quem de direito - de iniciativas que visem:
1) Respeitar os diferentes (étnicos, estéticos, religiosos, etc..); 2) Colocar limites em casa e na escola; 3) Zerar a negligência e a falta de profissionalismo no trabalho; 4) Dar opção de lazer e profissão aos jovens pobres; 5) Fechar bares mais cedo e formar policiais comunitários; 6) Penalizar e ressocializar o criminoso; 7) Acabar com a corrupção para que armas apreendidas não retornem aos bandidos; 8) Aparelhar e treinar a polícia; 9) Aumentar a eficiência da justiça; 10) Combater o consumo de drogas; 11) Formar um órgão de centralização e tratamento de informações sociais/criminais; 12) Reordenar os serviços, prestados pelas entidades governamentais e não governamentais, com foco no diagnóstico da criminalidade; 13) Combater a baixaria e a violência, principalmente na televisão; 14) Fazer cadastro do perfil, por bairro, da população em geral (ainda não consensual); 15) Instalar câmeras de segurança em Tubarão.
O lucro de poucos, no entanto, sobrepôs-se à vida de todos. Leis foram modificadas, desarticulando todo o trabalho que a sociedade, sequer, teve a oportunidade de conhecer na íntegra.
Retomou-se, em 2009, embora sem a mesma adesão de 2006. (Re) elaboramos leis. Fomos alçados do Comitê para Conselho de Segurança. Acordo foi firmado entre Ministério Público, Prefeitura e prestadores de serviços para evitar invasões de terrenos - futuras áreas de risco. Seminários explicaram os perigos das bebidas alcoólicas para a saúde, iniciação a outras drogas e segurança. Solicitamos ao DENIT fechar os vãos dos viadutos da BR 101, no perímetro urbano de Tubarão, para impedir que se tornem pontos de droga e de prostituição. Percorreu-se a cidade, alertando proprietários de estabelecimentos comerciais sobre as penalidades a quem vende bebidas alcoólicas para menores.
Acredita-se que, neste momento, acossados pelo exponencial crescimento da violência (5 assassinatos em 2008, 11 em 2009 e 6 até fevereiro de 2010), ocorra maior adesão às frentes de trabalhos e à vida de todos prepondere sobre o lucro de poucos.
Encerro, como em 2006: Cada sociedade escolhe como quer ser lembrada no futuro: com altivez, porque, no seu tempo, tomou iniciativas para que o futuro fosse melhor para todos; ou como descontextualizada, tendo contribuído para comprometer, irremediavelmente, o futuro de todos.
(*) Prof. Maurício da Silva
Mestre em Educação e Vereador de Tubarão (PMDB)
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